sábado, 21 de maio de 2011

História do Karate Goju-Ryu

                                HISTÓRIA DO KARATE GOJU-RYU

Sensei Kanryo Higaonna

Num documento escrito por Sensei Chojun Miyagi explicando a historia do Goju-Ryu, ele diz que o nosso estilo foi estabelecido em 1828, o que ele quer dizer por "o nosso estilo foi estabelecido em 1828" não é completamente claro. Sensei Higaonna tem três teorias acerca disso:
1º É o ano em que Ryu Ryu Ko, mestre de Sensei Kanryo Higaonna, nasceu.
2º É o ano que Ryu Ryu Ko começou o seu treino nas artes marciais.
3º É o ano em que Ryu Ryu Ko começou a ensinar, depois de ter copilado o seu próprio sistema de ensino fruto de muitos anos de duro treino e pesquisa.
Enquanto datas e registos do famoso artista marcial, Ryu Ryu Ko, tiverem escondidos isto manter-se-á um ponto de especulação (pesquisa neste ponto e outros aspectos da história do Goju-Ryu estão a decorrer em Fuzhou, China.)
Kanryo Higaonna nasceu em 1853, e viajou para Fuzhou, a capital da província de Fujian entre os anos de 1868-1870. O seu único propósito para fazer esta viagem era o de estudar as artes marciais chinesas. Ele ficou na China sob a tutela de Ryu Ryu Ko (como UchiDeshi, aluno residente) durante 14-15 anos. O estilo exato que ele estudou na China não é conhecido, contudo Sensei Higaonna depois de ter feito duas viagens de pesquisa á China acredita que era provavelmente o estilo da Garça Branca.
Kanryo Higaonna ao mesmo tempo em que estudava as formas de punho tornou-se um perito numa variedade de armas e medicina chinesa. Tal era a sua devoção que progrediu rapidamente, ultrapassando todos os outros na sua escola. De facto, tão extraordinária era a sua técnica que a sua fama como artista marcial espalhou-se através da província de Fujian.
Kanryo Higaonna regressou à sua ilha nativa de Okinawa em 1881. No seu regresso trabalhou no mar, como mercador de entre as pequenas ilhas do arquipélago de Ru Kyu. Ele não tentou ensinar as técnicas que aprendeu na China.
Nesse tempo muitos Okinawanos viajavam para a China, alguns para negociar outros para estudar ali. No seu regresso para Okinawa estas pessoas tendo conhecido a reputação de Kanryo Higaonna como grande artista marcial trouxeram de volta com eles histórias deste grande homem. Como resultado disso não demorou muito tempo antes que Kanryo Higaonna tivesse um bando de Okinawanos esperando estudar com ele. Isto foi o princípio do que mais tarde foi conhecido como OKINAWA GOJU-RYU.
O pai de Chojun Miyagi era o terceiro filho da sua família. O irmão mais velho do pai dele, o primeiro filho (em Okinawa tradicionalmente o mais importante em continuar a linha da família) não tinha filhos do sexo masculino para continuar o nome Miyagi, por isso na idade de 5 anos Chojun Miyagi foi adoptado por ele para cumprir esta tarefa. Para preparar Chojun Miyagi para a tarefa de ser um dia o chefe da família ele foi envolvido no Karate.
Ele tinha 11 anos nessa altura e foi levado para a escola de Aragaki Ryuko. Aragaki Ryuko vendo a tremenda dedicação desse rapaz e prevendo o seu potencial apresentou-o ao mais famoso instrutor da ilha, Kanryo Higaonna. Isto aconteceu no ano de 1902 e Chojun Miyagi tinha 14 anos de idade.
Chojun Miyagi treinou com um entusiasmo e dedicação não alcançado por nenhum outro aluno. Muitas vezes, depois do treino ter terminado e os outros alunos terem ido para casa, Chojun Miyagi ficava a pedido de Kanryo Higaonna para mais treino.
Devido á sua reputação Kanryo Higaonna trabalhava para a família real de Okinawa e outros importantes dignitários, como professor de artes marciais. Isso conduziu em 1905 a um convite para ensinar na Escola Comercial de Naha. Foi nesta altura, quando enfrentou a tarefa de ensinar jovens, que ele mudou a Kata Sanchin da sua original forma de mãos abertas para a forma de mãos fechadas que hoje praticamos - A arte que ele trouxe da China era muito definitivamente marcial na sua ênfase, e o objetivo de ensinar artes marciais na escola era o de melhorar o corpo e a mente, não o de ensinar ao estudante formas de matar (a mão aberta quando bem treinada é uma arma mortal).
Contudo ele continuou a ensinar durante algum tempo a forma de mão aberta da Kata Sanchin durante as suas aulas privadas. Pouco a pouco apesar da forma de mão fechada se ter estabelecido, provavelmente porque ele pensava que este método adaptava-se melhor ás pessoas de Okinawa. Esta foi a única alteração que Kanryo Higaonna fez no sistema que aprendeu na China, todas as outras katas continuaram na sua forma original.
Havia muitos outros Okinawanos que tinham estudado artes marciais na China, mas o nível de conhecimentos e perícia técnica de Kanryo Higaonna foi muito além do que alguém tinha testemunhado em Okinawa. A sua reputação foi responsável por trazer o Naha-te para o primeiro plano das artes marciais de Okinawa.
Kanryo Higaonna morreu em 1915, tornando Chojun Miyagi seu sucessor, para continuar os seus passos. Tal como antes, Chojun Miyagi continuou a treinar com extrema dureza. Manteve sempre na sua mente a inacreditável velocidade, força e perícia do seu mestre, ele lutou para atingir este mesmo nível de competência.  Para isso ele viajou para Fuzhou, a cidade onde o seu mestre tinha estudado artes marciais.
No seu regresso para Okinawa ele continuou com a mesma disposição, lutando ainda mais arduamente para desenvolver e melhorar a sua arte. As contribuições de Chojun Miyagi para o Goju-Ryu tal como o conhecemos hoje foram o acréscimo da Gekisai Dai Ichi, Gekisai Daí Ni e a Kata Tensho, para além da revisão da Kata Sanchin para incluir uma ênfase maior nos movimentos para trás. Ele também criou a presente sequência de Jumbi Undo (exercícios de aquecimento) para ajudar a dominar melhor as técnicas de Karate. Mas talvez a sua melhor contribuição fosse a estruturação geral do estilo de forma a ser ensinado e reconhecido como uma disciplina, através do mundo.
Ele tomou a tarefa de espalhar a sua arte aos jovens de Okinawa através do sistema educacional, e levando a arte para o Japão e aí ganhou reconhecimento oficial de modo a ser incluída, tal como o Judô e Kendo, como parte do curriculum regular das escolas.
Antes da Segunda Guerra Mundial o aluno mais senior de Chojun Miyagi e aquele que ele tinha escolhido para herdar a arte era Shinzato Jinan. Tragicamente, contudo, ele morreu durante a guerra. O efeito desta guerra em Okinawa foi devastador, e Chojun Miyagi não começou a ensinar outra vez antes de 1948. Havia somente quatro alunos a treinar nessa altura e que antes da guerra frequentava as classes de Chojun Miyagi.
Chojun Miyagi era um mestre extremamente exigente e duro e levou a vida inteira a pesquisar, estudar e praticar as artes marciais e os ensinamentos dos últimos cinco anos da sua vida foram uma compilação de tudo o que tinha aprendido. Foi o produto final da sua vasta experiência e conhecimento.
Assim, a sucessão da arte que começou na província de Fujian, Sudoeste da China em 1828 e foi transmitida de Sensei Ryu Ryu Ko para o Sensei Kanryo Higaonna e deste para o Sensei Chojun Miyagi.


No ano 9/10 ano da era Showa (1934/1935) o Sensei Chojun Miyagi visitou a cidade de Kyoto (Japão) e a universidade de Ritsumei Kan para ali ensinar Karate.
Ele reuniu os alunos do clube de Karate e depois de terminar o treino deu-lhes um trabalho para casa. Cada um dos alunos deveria fazer aos seus pais a seguintes pergunta: "qual era a sua opinião sobre o Karate?". No dia seguinte o Sensei Miyagi reuniu novamente os membros do clube de Karate para descobrir as respostas á pergunta que lhes fez no dia anterior. “Karate é para matar”. “O Karate é terrível e é algo temível" disseram alguns alunos. Outros responderam "Karate é para bárbaros". Essas respostas mostraram a típica ideia que as pessoas do Japão tinham sobre o Karate nessa altura. As pessoas no Japão nunca tinham visto Karate e era por isso que eles eram totalmente ignorantes da sua natureza.

 Sensei Chojun Miyagi

Com essas respostas o Sensei Miyagi deu outra pergunta aos alunos para que levassem para casa essa noite: "Kendo usa uma espada de madeira, o Shinai (espada de bambu) para golpear a cabeça e o corpo, O Judô usa projeções e chaves ás articulações e estrangulamentos para incapacitar um oponente; qual então a sua opinião sobre o Judô e o Kendo?". No dia seguinte os alunos reunidos não tinham respostas porque seus pais se negaram a responder. O preconceito era óbvio. As artes marciais nascidas no Japão, como o Judô e o Kendo, eram muito estimadas e bem compreendidas, mas o Karate, que vinha de Okinawa era totalmente mal entendido e diminuído a nada mais do que um método de luta bárbaro.

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