HISTÓRIA DO KARATE GOJU-RYU
Sensei Kanryo Higaonna
Num documento escrito por Sensei Chojun Miyagi explicando a historia do Goju-Ryu, ele diz que o nosso estilo foi estabelecido em 1828, o que ele quer dizer por "o nosso estilo foi estabelecido em 1828" não é completamente claro. Sensei Higaonna tem três teorias acerca disso:
1º É o ano em que Ryu Ryu Ko, mestre de Sensei Kanryo Higaonna, nasceu.
2º É o ano que Ryu Ryu Ko começou o seu treino nas artes marciais.
3º É o ano em que Ryu Ryu Ko começou a ensinar, depois de ter copilado o seu próprio sistema de ensino fruto de muitos anos de duro treino e pesquisa.
Enquanto datas e registos do famoso artista marcial, Ryu Ryu Ko, tiverem escondidos isto manter-se-á um ponto de especulação (pesquisa neste ponto e outros aspectos da história do Goju-Ryu estão a decorrer em Fuzhou, China.)
Kanryo Higaonna nasceu em 1853, e viajou para Fuzhou, a capital da província de Fujian entre os anos de 1868-1870. O seu único propósito para fazer esta viagem era o de estudar as artes marciais chinesas. Ele ficou na China sob a tutela de Ryu Ryu Ko (como UchiDeshi, aluno residente) durante 14-15 anos. O estilo exato que ele estudou na China não é conhecido, contudo Sensei Higaonna depois de ter feito duas viagens de pesquisa á China acredita que era provavelmente o estilo da Garça Branca.
Kanryo Higaonna ao mesmo tempo em que estudava as formas de punho tornou-se um perito numa variedade de armas e medicina chinesa. Tal era a sua devoção que progrediu rapidamente, ultrapassando todos os outros na sua escola. De facto, tão extraordinária era a sua técnica que a sua fama como artista marcial espalhou-se através da província de Fujian.
Kanryo Higaonna regressou à sua ilha nativa de Okinawa em 1881. No seu regresso trabalhou no mar, como mercador de entre as pequenas ilhas do arquipélago de Ru Kyu. Ele não tentou ensinar as técnicas que aprendeu na China.
Nesse tempo muitos Okinawanos viajavam para a China, alguns para negociar outros para estudar ali. No seu regresso para Okinawa estas pessoas tendo conhecido a reputação de Kanryo Higaonna como grande artista marcial trouxeram de volta com eles histórias deste grande homem. Como resultado disso não demorou muito tempo antes que Kanryo Higaonna tivesse um bando de Okinawanos esperando estudar com ele. Isto foi o princípio do que mais tarde foi conhecido como OKINAWA GOJU-RYU.
O pai de Chojun Miyagi era o terceiro filho da sua família. O irmão mais velho do pai dele, o primeiro filho (em Okinawa tradicionalmente o mais importante em continuar a linha da família) não tinha filhos do sexo masculino para continuar o nome Miyagi, por isso na idade de 5 anos Chojun Miyagi foi adoptado por ele para cumprir esta tarefa. Para preparar Chojun Miyagi para a tarefa de ser um dia o chefe da família ele foi envolvido no Karate.
Ele tinha 11 anos nessa altura e foi levado para a escola de Aragaki Ryuko. Aragaki Ryuko vendo a tremenda dedicação desse rapaz e prevendo o seu potencial apresentou-o ao mais famoso instrutor da ilha, Kanryo Higaonna. Isto aconteceu no ano de 1902 e Chojun Miyagi tinha 14 anos de idade.
Chojun Miyagi treinou com um entusiasmo e dedicação não alcançado por nenhum outro aluno. Muitas vezes, depois do treino ter terminado e os outros alunos terem ido para casa, Chojun Miyagi ficava a pedido de Kanryo Higaonna para mais treino.
Devido á sua reputação Kanryo Higaonna trabalhava para a família real de Okinawa e outros importantes dignitários, como professor de artes marciais. Isso conduziu em 1905 a um convite para ensinar na Escola Comercial de Naha. Foi nesta altura, quando enfrentou a tarefa de ensinar jovens, que ele mudou a Kata Sanchin da sua original forma de mãos abertas para a forma de mãos fechadas que hoje praticamos - A arte que ele trouxe da China era muito definitivamente marcial na sua ênfase, e o objetivo de ensinar artes marciais na escola era o de melhorar o corpo e a mente, não o de ensinar ao estudante formas de matar (a mão aberta quando bem treinada é uma arma mortal).
Contudo ele continuou a ensinar durante algum tempo a forma de mão aberta da Kata Sanchin durante as suas aulas privadas. Pouco a pouco apesar da forma de mão fechada se ter estabelecido, provavelmente porque ele pensava que este método adaptava-se melhor ás pessoas de Okinawa. Esta foi a única alteração que Kanryo Higaonna fez no sistema que aprendeu na China, todas as outras katas continuaram na sua forma original.
Havia muitos outros Okinawanos que tinham estudado artes marciais na China, mas o nível de conhecimentos e perícia técnica de Kanryo Higaonna foi muito além do que alguém tinha testemunhado em Okinawa. A sua reputação foi responsável por trazer o Naha-te para o primeiro plano das artes marciais de Okinawa.
Kanryo Higaonna morreu em 1915, tornando Chojun Miyagi seu sucessor, para continuar os seus passos. Tal como antes, Chojun Miyagi continuou a treinar com extrema dureza. Manteve sempre na sua mente a inacreditável velocidade, força e perícia do seu mestre, ele lutou para atingir este mesmo nível de competência. Para isso ele viajou para Fuzhou, a cidade onde o seu mestre tinha estudado artes marciais.
No seu regresso para Okinawa ele continuou com a mesma disposição, lutando ainda mais arduamente para desenvolver e melhorar a sua arte. As contribuições de Chojun Miyagi para o Goju-Ryu tal como o conhecemos hoje foram o acréscimo da Gekisai Dai Ichi, Gekisai Daí Ni e a Kata Tensho, para além da revisão da Kata Sanchin para incluir uma ênfase maior nos movimentos para trás. Ele também criou a presente sequência de Jumbi Undo (exercícios de aquecimento) para ajudar a dominar melhor as técnicas de Karate. Mas talvez a sua melhor contribuição fosse a estruturação geral do estilo de forma a ser ensinado e reconhecido como uma disciplina, através do mundo.
Ele tomou a tarefa de espalhar a sua arte aos jovens de Okinawa através do sistema educacional, e levando a arte para o Japão e aí ganhou reconhecimento oficial de modo a ser incluída, tal como o Judô e Kendo, como parte do curriculum regular das escolas.
Antes da Segunda Guerra Mundial o aluno mais senior de Chojun Miyagi e aquele que ele tinha escolhido para herdar a arte era Shinzato Jinan. Tragicamente, contudo, ele morreu durante a guerra. O efeito desta guerra em Okinawa foi devastador, e Chojun Miyagi não começou a ensinar outra vez antes de 1948. Havia somente quatro alunos a treinar nessa altura e que antes da guerra frequentava as classes de Chojun Miyagi.
Chojun Miyagi era um mestre extremamente exigente e duro e levou a vida inteira a pesquisar, estudar e praticar as artes marciais e os ensinamentos dos últimos cinco anos da sua vida foram uma compilação de tudo o que tinha aprendido. Foi o produto final da sua vasta experiência e conhecimento.
Assim, a sucessão da arte que começou na província de Fujian, Sudoeste da China em 1828 e foi transmitida de Sensei Ryu Ryu Ko para o Sensei Kanryo Higaonna e deste para o Sensei Chojun Miyagi.
No ano 9/10 ano da era Showa (1934/1935) o Sensei Chojun Miyagi visitou a cidade de Kyoto (Japão) e a universidade de Ritsumei Kan para ali ensinar Karate.
Ele reuniu os alunos do clube de Karate e depois de terminar o treino deu-lhes um trabalho para casa. Cada um dos alunos deveria fazer aos seus pais a seguintes pergunta: "qual era a sua opinião sobre o Karate?". No dia seguinte o Sensei Miyagi reuniu novamente os membros do clube de Karate para descobrir as respostas á pergunta que lhes fez no dia anterior. “Karate é para matar”. “O Karate é terrível e é algo temível" disseram alguns alunos. Outros responderam "Karate é para bárbaros". Essas respostas mostraram a típica ideia que as pessoas do Japão tinham sobre o Karate nessa altura. As pessoas no Japão nunca tinham visto Karate e era por isso que eles eram totalmente ignorantes da sua natureza.
Sensei Chojun Miyagi
Com essas respostas o Sensei Miyagi deu outra pergunta aos alunos para que levassem para casa essa noite: "Kendo usa uma espada de madeira, o Shinai (espada de bambu) para golpear a cabeça e o corpo, O Judô usa projeções e chaves ás articulações e estrangulamentos para incapacitar um oponente; qual então a sua opinião sobre o Judô e o Kendo?". No dia seguinte os alunos reunidos não tinham respostas porque seus pais se negaram a responder. O preconceito era óbvio. As artes marciais nascidas no Japão, como o Judô e o Kendo, eram muito estimadas e bem compreendidas, mas o Karate, que vinha de Okinawa era totalmente mal entendido e diminuído a nada mais do que um método de luta bárbaro.
Sensei Chojun Miyagi trabalhou muito para alterar estes preconceitos. Ele executou demonstrações e fez discursos no Butokukai, ensinou Karate em escolas e na policia. Ele viajou ao Hawaii e á China para investigar e difundir as artes marciais de Okinawa. Foi através do seu esforço que o Karate de Okinawa foi mais bem compreendido como algo benéfico para o praticante individual e para a sociedade como um todo. O Goju-Ryu tornou-se o primeiro estilo de Karate a ser registado no Butokukai, e com este o Karate em geral recebeu o reconhecimento como uma arte marcial com direito iguais ás das muito respeitadas artes marciais Japonesas. O Karate emergiu da sua imagem de luta bárbara a uma posição de muita estima e refinada disciplina marcial.
CLUBE DE KARATE KENKYU-KAI
Os anos 1920 e 1930 podem ser considerados como a era de ouro do Naha-te, ainda mais do que na época do Sensei Kanryo Higaonna. O Sensei Chojun Miyagi estava no auge das suas capacidades, e a sua popularidade estava espalhada e tinha muitos alunos, alguns deles sendo grandes karatekas.
Era neste contexto que o clube de Karate Kenkyu-Kai (instituto) foi criado. O karate Kenkyu-Kai, que foi o primeiro grupo de artes marciais deste género a ser criado em Okinawa, era uma tentativa de unificar as artes marciais de Naha-te e Shuri-Te e criar um grupo forte através do qual as artes marciais de Okinawa pudessem desenvolver-se e tornar-se reconhecidas dentro e fora de Okinawa.
Foi o Sensei Chojun Miyagi que concebeu a ideia de Karate Kenkyu-Kai e foi com a ajuda do seu amigo de longa data, GO KEN KI (comerciante de chá, nasceu em Fuzhou na China e vivia em Okinawa. Era também instrutor da arte marcial da Garça Branca de Fujian) que fundou o projeto e em 1925 o edifício que albergou o Karate KenkyuKai ficou terminado. O edifício ficava em Asahigaoka, distrito de Wakasamachi na cidade de Naha.
O Karate Kenkyu-Kai estava bem equipado para o treino de artes marciais. Foram tomadas medidas para que os treinos pudessem ser conduzidos tanto dentro do edifício com na área que o circundava. (ver foto). Foi em Março de 1926 que oficialmente os treinos começaram no Karate Kenkyu-Kai.
Como já foi mencionado, o objetivo do Sensei Chojun Miyagi em estabelecer o Karate Kenkyu-Kai era o de unificar o Naha-te e o Shuri-te num grupo coeso que pudesse ser reconhecido oficialmente. Isso permitiria a essas artes marciais, como "artes marciais de Okinawa", a serem reconhecidas como sendo uma "tradição cultural incorpórea" de Okinawa. Isto por seu turno facilitaria a expansão das artes marciais de Okinawa no Japão e eventualmente através do resto do mundo, dessa forma assegurando a preservação futura destas valiosas tradições para as futuras gerações. Além disso, o Sensei Miyagi estava também preocupado com a formação de bons instrutores e com o aumento e desenvolvimento da força física e espiritual dos jovens de Okinawa através do treino de Karate.
Para ensinar no Karate Kenkyu-Kai o Sensei Miyagi convidou os melhores mestres de Shuri-Te da ilha. Eles eram: Hanashiro Chomo (1869-1945); Motobu Choyu (1864-1927) irmão do famoso Motobu Choki; e Kenwa Mabuni (1889-1952) que foi mais tarde o fundador do estilo Shito-Ryu. Estes três famosos mestres ensinavam Shuri-Te no Karate Kenkyu-Kai enquanto o Sensei Chojun Miyagi, ajudado pelos seus alunos seniores, ensinava Naha-te. Tal era a popularidade do Naha-te nesses tempos que as classes do Sensei Chojun Miyagi eram assistidas regularmente por 40 alunos enquanto as aulas dos outros mestres eram assistidas por não mais de 6 ou 7 alunos.
Com os objetivos do Karate Kenkyu-Kai em mente o Sensei Chojun Miyagi introduziu um curriculum estruturado e completo de ensino. Isto consistia especificamente em; JUNBI UNDO (exercícios de aquecimento) que foram desenvolvidos pelo Sensei Chojun Miyagi e que eram únicos nesse tempo - nenhum outro estilo praticava tais exercícios de aquecimento de forma cientifica; o HOJO UNDO (exercícios suplementares) tais como o chiishi, makiwara, nigiri-game, tetsu-are, jo, tan, etc. e treino de sanchin repetitivo.
Os variados objetos para HOJO UNDO eram usados para fortalecer cada parte do corpo, para desenvolver o "poder do Karate" (força especifica para o Karate). Como método de treino de condicionamento, tanto do corpo como da respiração, sanchin kata era praticada diariamente. Apesar do treino físico do corpo este curriculum era destinado também a fortalecer e desenvolver as mentes dos alunos.
O curriculum ensinado no Kenkyu-Kai era baseado cientificamente, um regime sistematizado de treino de karate (resultado de extensa pesquisa feita pelo Sensei Chojun Miyagi) que encorajava os alunos a compreender os seus próprios corpos e os mecanismos envolvidos no desenvolvimento de força, enquanto ao mesmo tempo através deste tipo de treino o sistema nervoso e sistemas periféricos eram trabalhados de modo a aumentar os necessários reflexos vitais para a prática do karate.
Para assegurar o desenvolvimento mental correto dos alunos, o Sensei Miyagi falava frequentemente da importância das relações humanas, da construção de um caráter forte e de um espirito marcial correto. Ele explicava aos alunos como as pessoas deviam conduzir as suas vidas e o "caminho" que os seres humanos deviam seguir durante as suas vidas. O dias 1 e 15 de cada mês eram dias destinados para prestar respeito à BUSAGANASHI, a deidade das artes marciais. Nestes dias os treinos eram suspensos no Karate Kenkyu-Kai e no seu lugar o Sensei Chojun Miyagi convidava distintos Senseis de outras artes, tais como pintura ou musica, etc. para vir dar palestras aos alunos de Karate. O Sensei Miyagi achava que era importante ter um vasto leque cultural e ele encorajava sempre os alunos a aprenderem de outras disciplinas. Para ilustrar isto, o Sensei Kina Seiko (aluno sênior de Sensei Miyagi) lembra-se de lhe ser dito pelo Sensei Miyagi não aprender apenas o Naha-te. Sensei Miyagi disse-lhe para ir aprender Shuri-Te com o Sensei Motobu Choyu. Com ele aprendeu a kata Unsu que ele ainda hoje pratica e ensina.
O Karate Kenkyu-Kai foi a primeira tentativa dos artistas marciais de Okinawa para criar uma "sociedade" estruturada das artes marciais. Foi sem dúvida uma grande inovação e um curriculum altamente estruturado, além de beneficiar os alunos diretamente, demonstrou a verdadeira natureza do karate como sendo uma disciplina com bases cientificas. Desta forma foi possível ao Karate desenvolver-se nos círculos oficiais reconhecidos em Okinawa e no Japão.
Em 1929 devido a problemas administrativos o Karate Kenkyu-Kai fechou. Depois do encerramento o Sensei Miyagi passou a ensinar em privado na sua casa. Muitos dos alunos que tinham treinado no Karate Kenkyu-Kai (a maioria rapazes universitários com idades entre os 17 e 22 anos) foram treinar com o Sensei Miyagi, em sua casa. Foi nesta altura, durante um período de 1 ano entre 1929 e 1930 que o Sensei Miyagi começou a experimentar o IriKumi (combate livre) usando equipamento de proteção. Ele encomendou o equipamento de proteção em Osaka, Japão: proteções para a cabeça, peito, genitais e punhos. A maior parte do Iri-Kumi era praticado pelos rapazes universitários. Socos e pontapés eram executados com velocidade e força máximas, sem consideração por controle ou limitação de técnica perigosa. As lutas que se faziam podiam ser descritas no mínimo como duras. A ideia do Sensei Miyagi não era de praticar Iri-Kumi como forma desportiva, mas sim para pesquisar as possibilidades realísticas do combate livre com equipamento protetor. Um ano mais tarde, o espirito aguerrido dos jovens lutadores tinha resultado num grande aumento de lesões, especialmente no pescoço e dedos dos pés. O pescoço, por causa do peso da proteção da cabeça (que tinha uma pesada rede metálica a proteger a cara) que criava um efeito chicote no pescoço quando a cabeça era atingida. Os dedos dos pés devido á rede metálica na proteção da cabeça e também porque a proteção do peito era feita com desenho similar ao das armaduras de kendo.
Por causa de esta alta incidência de lesões, resultado de um inadequado desenho do equipamento protetor, Sensei Miyagi decidiu interromper este tipo de treino. Ele decidiu que, pelo menos para a maioria dos alunos, o treino de kumite, devia ser concentrado no Yakusoku Kumite (combate pré-concebido), san dan uke harai (ataques básicos e treino de defesa) e Kakie (treino de puxar as mãos). Ele decidiu que este tipo de treino era mais importante. Contudo a prática do Iri-Kumi não terminou de repente. Continuou a ser praticado pelos alunos com mais alto nível, tal como sempre tinha sido.
UMA HISTORIA DE LEALDADE
Cerca de 1930 funcionários governamentais vieram do Japão para observar a celebre arte marcial da pequena ilha reino de Okinawa. Para receber estes convidados especiais, foi organizada uma demonstração de artes marciais por um alto oficial da academia de policia de Naha.
O Grande-Mestre Chojun Miyagi, sendo o mais importante e famoso artista marcial nesse tempo, foi convidado a executar uma demonstração de Karate Goju-Ryu. Ele organizou uma demonstração para ser executada por alguns dos seus alunos mais antigos e confiáveis, um deles era Jin'an Shinzato. Sensei Miyagi o tratou próprio de compor a demonstração e pediu a cada um dos alunos para tomar parte.
Quando o dia da demonstração chegou, Meitoku Yagi (um dos alunos sênior escolhido para tomar parte na demonstração) foi à casa de Jin'an Shinzato com a intenção de irem juntos para o local aonde o evento ia-se desenrolar. Contudo, Shinzato (por causa de uma má relação que tinha com a pessoa organizadora do evento) disse que ia ficar em casa, nesse dia. Meitoku continuou o seu caminho sozinho.
No dia seguinte, Shinzato chegou ao Dojo do Sensei Chojun Miyagi como de costume. Sensei Miyagi que já tinha ouvido falar acerca do incidente do dia anterior, disse simplesmente a Shinzato que ele não precisava mais de voltar ao Dojo.
Shinzato ficou profundamente chocado pelas consequências do acontecimento. Voltou para casa e meditou profundamente acerca do que aconteceu. Ele compreendeu a gravidade da sua situação. Durante muitos dias Shinzato ficou em casa com a cabeça descaída, ponderando as suas ações, que conduziram á expulsão do Dojo.
Finalmente, depois de alguns dias de autorreflexão ele tomou a decisão de voltar ao Dojo e oferecer as suas mais profundas desculpas ao Sensei Miyagi.
No dia seguinte Shinzato saiu de casa e dirigiu-se ao Dojo (que ficava muito perto). Conforme se aproximou das portas do Dojo, contudo a sua decisão enfraqueceu e ele não conseguiu arranjar a coragem para entrar no Dojo e enfrentar o seu severo mestre. Ele esperou do lado de fora durante algum tempo antes de voltar para casa. No dia seguinte uma vez mais ele saiu em direção ao Dojo.
Mas, uma vez mais a sua coragem fraquejou á medida que se aproximava do Dojo. Ainda não tinha arranjado coragem para entrar e pedir desculpas. Esta viagem de ida e volta entre o Dojo e a sua casa durou uma semana. Finalmente chegou o dia em que a sua coragem triunfou sobre o seu receio e ele entrou no Dojo e com óbvia sinceridade e profundo sentimento de arrependimento pediu as suas mais profundas desculpas ao Sensei Miyagi.
Depois disto Sensei Miyagi aceitou Shinzato de volta ao seu Dojo. Foi depois deste incidente que Shinzato, que possuía um grande talento natural, genial mesmo, começou a treinar ainda com mais intensidade do que tinha feito anteriormente e pouco tempo depois se tornou o melhor aluno de Sensei Chojun Miyagi.
Jin'an Shinzato, a partir desse momento mostrou grande lealdade para com o seu mestre. Isto não era só verdade no seu treino técnico (Shinzato, através do seu grande esforço tornou-se numa eminência em Kata e Kumite e foi bastante conhecido pelas suas inovações, especialmente nas técnicas de projeção. Por causa desta lealdade ele escutava atentamente as instruções do Sensei Miyagi e seguia os seus conselhos essenciais para a preservação das tradições do Goju-Ryu), era também verdade na sua vida normal, onde ele era sempre muito educado e obsequioso com o seu Mestre.
O Sensei Jin'an Shinzato morreu tragicamente durante a 2ª Guerra Mundial, em 1945. O Sensei Chojun Miyagi, que tinha escolhido Shinzato para ser seu sucessor, ficou profundamente triste pela morte prematura do seu protegido e aluno.
"ASHI NO HIGAONNA"
Para os Okinawanos o Sensei kanryo Higaonna era muito mais do que um extraordinário artista marcial. O seu nível técnico alcançou as raias do misticismo; um artista marcial sem igual, no seu próprio tempo ou em eras passadas e provavelmente de todos os tempos futuros.
Sensei Kanryo Higaonna, professor do fundador do Goju-Ryu Sensei Chojun Miyagi, era conhecido pelas pessoas de Okinawa por "Ashi no Higaonna". "Ashi" significa pernas e ele era conhecido por este titulo por causa da sua legendária habilidade para fazer técnicas com as pernas. Se considerarmos que as Katas do Goju-Ryu não dão grande ênfase ás técnicas de pernas o titulo é bastante surpreendente.
Sensei Kanryo Higaonna gastou 15 anos no Sudoeste da China, província de Fujian, a praticar artes marciais chinesas. Após o seu regresso a Okinawa a sua fama como extraordinário artista marcial (e mestre muito exigente) espalhou-se pela ilha. Nesta altura um notório lutador de rua chamado "Mimi Unchu" (um alcunha ligado ás suas orelhas que eram bastante grandes) que se proclamava como sendo o homem mais duro de Okinawa, e com alguma justificação porque alguns anos atrás tinha vencido o famoso Motobu "saru" (um lutador que vencia todos os que se lhe apresentavam, incluindo estrangeiros, e que era mais conhecido por ter vencido um boxer Russo com um soco apenas), estava á procura de assegurar a sua pretensão, da qual estava particularmente orgulhoso. Apesar desta pretensão ele estava, contudo mais do que apreensivo acerca de Sensei Kanryo Higaonna.
Era do conhecimento geral que o Sensei Kanryo Higaonna costumava algumas vezes visitar a zona portuária de Naha, uma zona repleta de tabernas e estalagens, onde ele costumava ficar até tarde, na noite. Quando ele regressava a casa costumava seguir sempre pelo mesmo caminho, um atalho pelo cemitério abandonado.
Uma noite "Mimi Unchu" determinado em provar que era o lutador okinawano mais duro (através de qualquer meio possível) preparou uma espera a Sensei Kanryo Higaonna á saída do cemitério, escondendo-se atrás da fina parede de pedras através da qual a saída passava.
Sensei Kanryo Higaonna, não completamente sóbrio por causa das suas atividades noturnas, apareceu no caminho no seu regresso para casa. "Mimi Unchu" vendo a condição da sua pretendida vitima decidiu que a sua tarefa ia ser uma bastante fácil e que um pontapé bem colocado seria suficiente.
Conforme Sensei Kanryo Higaonna apareceu na saída "Mimi Unchu", não dando qualquer chance á sua vitima de o ver e muito menos de encará-lo, atacou sem aviso prévio. Contudo, para seu grande espanto deu consigo de costa no chão, uma dor aguda latejava na sua perna de ataque duramente antes da sua perna sequer deixar o chão, Sensei Kanryo Higaonna sem ver o atacante tinha disparado um pontapé muito rápido para a perna de ataque de “Mini unchu", desta forma parou o seu pontapé e atirou-o ao chão. Nesta altura "Mimi Unchu" agindo prudentemente fugiu.
Sensei Kanryo Higaonna pensando que tinha sido desafiado correu atrás do seu desconhecido atacante. "Mimi Unchu" fugiu para um teatro público ali perto na tentativa de se esconder entre a multidão. Uma vez lá dentro encontrou um esconderijo atrás de umas caixas grandes que continham os fatos dos atores. O gerente do teatro observando um agitado "Mini Unchu" escondendo-se atrás das caixas e logo a seguir entrando no teatro um homem com aspecto de zangado, que ele imediatamente reconheceu com sendo Sensei Kanryo Higaonna, adivinhou o que se teria passado. Sensei Kanryo Higaonna chamou o gerente e perguntou-lhe se ele tinha visto alguém a entrar no teatro. O gerente, temendo por "Mimi unchu" disse que não.
Depois de Sensei Kanryo Higaonna ter-se ido embora, o gerente foi ao lugar onde "Mimi unchu" estava escondido e disse-lhe que o seu perseguidor se tinha ido embora. Nesta altura, um "Mimi unchu" extremamente espantado e assustado, ainda não acreditando no que lhe tinha acontecido, explicou ao gerente do teatro os acontecimentos daquela noite.
Alguns anos mais tarde "Mimi unchu" tentou juntar-se ao Dojo de Sensei Kanryo Higaonna, mas Sensei Higaonna, alertado pela reputação de "Mimi unchu" como lutador de rua (contudo ainda não sabendo que tinha sido "Mimi unchu" que o tinha atacado naquela noite ) recusou ensina-lo.
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